Velar por Ela
Como em O Pianista da Estação, também nesta sua obra, Velar por ela, o autor recorre ao recurso de narrar quase uma biografia do personagem principal, desde sua infância. E esse passar de tempo leva a obra a se referir, quer como ambientação, quer como ocorrência de acontecimentos, muita proximidade com a realidade factual, sobretudo histórica.
Assim como no Pianista da Estação ocorre a queda de um avião de passageiros no aeroporto de Paris w que retrata a queda real do avião da Varig naquele ano e naquele aeroporto, neste Velar por ela, para contar a trajetória de vida do menino praticamente abandonado pela mãe se tornando um escultor famoso e personagens badaladas na Itália no período fascista retratam acontecimentos e personagens reais, que entram na sua ficção.
Na longa história que percorre algumas décadas, são citadas nada menos do que 48 personagens, criadas e reais, que interagem em diversas situações, ou são apenas citadas em eventos – reais ou fictícios (mas que poderiam muito bem ter ocorrido) o que dá uma sensação de realidade, a par do estilo muitas vezes realista na descrição. Entretanto, o que parece marcar a obra é certo lirismo, um romance sensível, em que se mesclam – muito bem dosados – a arte, a amizade, o amor, o afeto, enfim o lado positivo do ser humano.
Mas também, outros personagens são construídos a partir do caráter que revelam o seu lado negro, o egoísmo, a avareza, a falsidade e por aí vai, pelas quatrocentas e vinte páginas.
Embora a história tenha certa dinâmica, o estilo é lírico e envolve, criando uma atmosfera quase sempre melancólica e introspectiva. As reflexões sobre a arte, sem pretensões academicistas, mostram a obsessão artística, a busca pela perfeição por parte do artista, nem sempre compreensível, e o impacto disso na vida do criador; não é História, mas a respeita.
Os diferentes cenários narrados, reais e históricos, ou meramente ficcionais, atraem o leitor para ricas sensações e experiências diversificadas, seja num palais dês arts, ou num circo mambembe.
E o amor profundo, o amor eterno, o amor contido, ou o amor platônico, fica a escolha da leitora/do leitor. Ou se preferir, a mera amizade, o mero carinho, o mero afeto... com efeito.