O mago do Kremlin
Ele ficou conhecido como “O mago do Kremlin”. O enigmático Vadim Baranov foi um produtor de reality shows antes de se tornar uma eminência parda de Vladimir Putin, tratado como o “Czar”.
Após sua demissão como conselheiro político, as lendas sobre ele se multiplicam, sem que ninguém seja capaz de separar o falso do verdadeiro. Até que, uma noite, ele confia a sua história ao narrador deste livro.
Esta história nos conduz ao coração do poder russo, um palco no qual cortesãos e oligarcas travam uma guerra constante. E onde Vadim, que se tornou o principal arquiteto da narrativa do regime, transforma um país inteiro num teatro político, onde a única realidade é a realização dos desejos do Czar.
Vadim, no entanto, não é apenas mais um homem ambicioso: arrastado para os mistérios cada vez mais obscuros do sistema que ajudou a construir, trata-se de um poeta perdido entre os lobos, que fará tudo para sair das amarras desse novo tipo de poder.
Da guerra na Tchetchênia até a crise com a Ucrânia, passando pelos Jogos Olímpicos de Sóchi, O mago do Kremlin, inspirado em fatos e personagens reais, é o grande romance sobre a Rússia contemporânea. Ele revela as entranhas da era Putin, oferecendo uma meditação sublime sobre o poder no século XXI.
Comentários
APPIO
07/03/2023 - 19:37
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O Mago do Kremlin
O MAGO DO KREMLIN
De Giuliano da Empoli
Como de hábito, nada sabia sobre a obra e o autor. Hábito que me faz entrar na leitura sem nenhum condicionamento. Esse hábito contribuiu para eu me sentir um tanto confuso nas primeiras páginas lidas. Outro hábito é sempre tentar identificar tempo e lugar. Neste caso, o lugar não deixava dúvidas. Mas quanto ao tempo confesso ter ficado confuso. Quando ocorriam os fatos narrados. No princípio, deduzi, por óbvio, tratar-se do imperador da Rússia (não há czares em outros lugares), mas, quanto ao tempo, os fatos descritos deixaram-me em dúvida.
(Até 1905 imperava o Czar (monarquia absolutista) - Nicolau II. Em 1905 ocorre a revolução, instalando-se um parlamento, a Duma. Em 1917 os Bolcheviques dão um golpe, destituindo Duma (o parlamento eleito), o Czar (e a monarquia) e implantam o regime soviético sob o domínio exclusivo do Partido Comunista. O Czar e toda a sua família são executados (assassinados) pelos bolcheviques em 1918. Em 2000, Nicolau II e sua família são canonizados pela Igreja Ortodoxa Russa.)
No inicio o autor se refere “a influencia sobre o Czar” (portanto antes de 1905 ou de 1917?), e ao mesmo tempo se refere ao Presidente (seria presidente da Duma? Do Conselho de Ministros? Da posterior Federação?).
Sem decifrar, fui lendo e achei que estaria sendo montada uma narrativa atemporal, jogando com fatos em épocas distintas. Aos poucos compreendi que, em termos de tempo, os acontecimentos eram contemporâneos e as narrativas sobre o período comunista eram digressões. E aí a leitura deslanchou.
Não saberia dizer se é uma narrativa histórica (pois fatos recentes dão esse contexto), se o estilo é do tipo “documentário” (com o narrador sendo um dos personagens reais aonde vão sendo descritos acontecimentos e declarações), se é uma biografia parcial de personagens conectadas (é a historia do narrador – que não é o autor, mas personagem – e suas conexões, principalmente com o Presidente Vladimir Putin, e fatos e eventos alguns reais), se é um romance não histórico, mas com uso de fatos reais. Ou se é tudo isso.
E tudo isso se tornou uma leitura interessante, uma forma inovadora (para mim).
Há sem dúvida uma narrativa analítica da história recente (pós queda do Comunismo) da Rússia, no seu aspecto social e político, por alguém (narrador/personagem) que esteve tanto fora como por dentro do poder, e não só: um dos construtores desse poder.
O “mago” do Kremlin pensei, no princípio, que seria o Boris, um oligarca amigo do Putin e controlador de rede de comunicação, e que iniciou o processe de ascensão do ex KGB. Mas não era. Era o narrado, que dá uma série de detalhes, de fatos, de eventos que, mesmo sendo hipotéticos, parecem ser reais. E como na Rússia é mais importante o que parece ser o que parece ser torna realidade.
São contadas, desde os tempos do Stalin até a época atual, partes significativas da história política e social da Rússia, onde a concentração do poder (ditaduras de fato, embora com nomes politicamente corretos, cruéis e sanguinárias) é uma constante. Os breves anos pós queda do comunismo – democracia pela primeira vez – foi considerada pelos atuais, ou melhor, atual detentor do poder como decadência de valores russos. E quais seriam esses valores? Uma Rússia imperial, imperialista, governantes fortes -quando não sanguinários- sobre um povo submisso (acostumado a isso), com sentido nacionalista, conservador, e antidemocrático e anti todo o mundo que não se submeta.
Descrições das atitudes e comportamentos de Stalin, dos geroncratas comunistas, e do próprio Putin,confirmam essa conclusão sobre o poder na Rússia.
E a atualidade é dada pela descrição dos acontecimentos relativos à atual Invasão da Ucrânia pela Rússia.
E a analise do perfil do governante, da sua tática de poder e a estratégia para dominação das mentes não só dos próprios russos, para justificar a sua desumana invasão da Ucrânia tão bem expostas no livro é totalmente confirmada pelas atuais ações de comunicação do Governo Putin e de suas próprias palavras em declarações e discursos oficiais.
Acho que os túmulos dos grandes compositores e escritores russos devem estar revirados pela indignação.
De minha parte, esperanças e desejos: todos os impérios caem, todos os ditadores também morrem.
quatro primeiros