O perfume da folha de chá
Um homem atormentado por seu passado. Uma mulher diante da escolha mais terrível de sua vida.
Em 1925, a jovem Gwendolyn Hooper parte de navio da Escócia para se encontrar com seu marido, Laurence, no exótico Ceilão, do outro lado do mundo. Recém-casados e apaixonados, eles são a definição do casal aristocrático perfeito: a bela dama britânica e o proprietário de uma das fazendas de chás mais prósperas do império.
Mas ao chegar à mansão na paradisíaca propriedade Hooper, nada é como Gwendolyn imaginava: os funcionários parecem rancorosos e calados, e os vizinhos, traiçoeiros. Seu marido, apesar de afetuoso, demonstra guardar segredos sombrios do passado e recusa-se a conversar sobre certos assuntos.
Ao descobrir que está grávida, a jovem sente-se feliz pela primeira vez desde que chegou ao Ceilão. Mas, no dia de dar à luz, algo inesperado se revela. Agora, é ela quem se vê obrigada a manter em sigilo algo terrível, sob o preço de ver sua família desfeita.
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APPIO
08/02/2023 - 22:10
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O PERFUME DA FOLHA DE CHÁ
O PERFUME DA FOLHA DE CHÁ
De Dinah Jefferies
Eu achei que estava de mau humor quando comecei a ler “O perfume da folha de chá”, porque até a página 132 eu formara uma opinião não muito favorável do livro. Impliquei até com a tradução do título.
Achei que o título original “A mulher do plantador de chá” seria mais adequado a narrativa da história que estava lendo, e que se passava no Ceilão dos anos 20 do século XX, na qual nada de significativo parecia acontecer.
Excessivas e longas descrições minimamente detalhadas de gestos, de aparências, e até de marcas de objetos, além de elementos da natureza, tornavam desinteressante a exposição, muito objetiva, mas na qual uns poucos e sutis elementos indicavam a possibilidade de alguma tensão no enredo, por deixarem algo no ar.
A exposição descritiva parecia-me o script detalhado de cada tomada, de cada cena de um filme, ou melhor, de uma novela (brasileira, com certeza), na qual se pula alguns capítulos e o enredo continua o mesmo.
Esperava ser explorada a situação política (problemática típica das colônias britânicas na época), como base do enredo, mas as citações eram apenas episódicas.
Personagens foram sendo enunciados e descritos, igualmente detalhadamente, num contexto de relacionamento familiar – mulher/marido, irmã, primas, irmão... o que me reafirmava uma comum historia de relações familiares, típicas da telenovela (pequenos desentendimentos, ciumezinhos, pequenas crises de ciúmes...)
Até a cena da protagonista (Gwen) embriagada levada ao quarto pelo pintor nativo (Ravi), sugeriu-me enredo previsível.
Por outro lado, pareceu-me até descuido no texto quando, tendo dedicado tantos detalhes a coisas irrelevantes, ao descrever as instalações da fábrica de chá (afinal a principal atividade) a autora usa apenas três palavras: “ferramentas, cordas e afins”.
Mas não desisti.
Meu mau humor melhorou e certamente pelo romance começar a tomar contornos de uma narrativa mais interessante, com episódios mais densos e tensos e, sobretudo com eventos mais intrigantes.
A personalidade dos personagens cresce e se afirma e se constroem os confrontos, gerando expectativas para o que ocorreria adiante.
O romance cresce, a história, ou melhor, as histórias envolvidas tornam-se interessantes, e aumenta a tensão sobre o que poderá e quanto poderá ocorrer. Agora o romance começa a ficar realmente interessante.
Um parto com gêmeos de características étnicas diferentes, por si só inusitado, além de evidenciar uma traição, afronta os valores de uma sociedade cuja elite européia, branca e colonizadora, domina com crueldade a miserável população local, de etnias diferentes, submetidas a uma situação semelhante à escravidão - embora com um mísero salário - mas ainda sujeitas à castigo legal com açoites, e predominante preconceito racial.
O drama de esconder algo profundamente pessoal é levado aos limites. Uma omissão ou mentira acaba por levar à outra, o medo de ser descoberto é permanente, e a culpa é ainda sujeita a chantagem. O amor, a paixão, o ciúme, o ódio e a inocência dão os ingredientes à trama que vai crescendo de intensidade e mantendo o interesse na leitura até o final.
Minha opinião inicial sobre o romance mudou.
Acabei gostando do chá do Ceilão.
Embora ainda prefira o Earl Grey.
quatro primeiros