Quatro estações - Parte 1
Uma coleção “hipnótica”, segundo o The New York Times, com quatro histórias ligadas pela mudança das estações, cada uma narrando a jornada de diferentes personagens, sob diferentes momentos da vida.
Publicado originalmente em 1983, Quatro estações revela outra faceta do mestre do suspense. São quatro histórias bem diferentes do universo habitual de Stephen King, em que o autor constrói narrativas baseadas no dia a dia dos personagens e mostra sua habilidade em criar demônios sob uma nova perspectiva: eles aparecem de modo subliminar, povoando a natureza humana.
Em Primavera eterna, o escritor toma a injusta condenação de um homem à prisão perpétua como ponto de partida para falar sobre o desejo de liberdade. A adaptação para as telas do cinema – com atuações de Tim Robbins e Morgan Freeman – fez grande sucesso sob o título Um sonho de liberdade.
Já na trama Outono da inocência, o autor dá novos contornos à passagem da juventude para a maturidade, contando a história de um grupo de adolescentes confrontados com a morte ao se verem diante de um cadáver. A história se transformou no clássico filme Conta comigo.
OBS - O debate desta obra foi divido em duas reuniões:
Parte 1 (Livro 27)
- "Primavera Eterna: Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank"
- "Verão da Corrupção: Aluno Inteligente"
Parte 2 (Livro 28)
- "Outono da Inocência: O Corpo"
- "Inverno no Clube: Método Respiratório"
Comentários
Durval Tabach
02/03/2018 - 08:58
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Proposta de debate
Poderíamos mudar um pouco o formato do debate.
Visto que o livro tem 560 páginas e 4 contos, poderíamos debater dois contos em cada reunião, usando duas reuniões para debater o livro completo e tendo dois meses para ler o livro todo.
Talvez seja um formato interessante para quando quisermos ler livros mais longos.
Se o livro que lemos não nos desperta como um murro no crânio, para que lê-lo? (Franz Kafka)
Durval Tabach
09/05/2018 - 13:08
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NÃO esqueça o filme!
Se no caso de 'O Vendedor de passados', eu recomendava não assistir ao filme, porque ele desmerecia a narrativa original, minha sugestão é a oposta no caso de "Primavera Eterna: Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank".
Acho que, pela primeira vez, assisti a um filme que superou o texto original. 'Um sonho de liberdade' cria novas cenas e tramas não presentes no livro, enriquecendo e reforçando o argumento da narrativa.
Não que o conto escrito seja ruim, pelo contrário: agrada o estilo simples, fluente e essencial . Mas o tema da liberdade interior sobrevivendo à rotina massacrante de uma prisão ganha mais impacto quando narrado por meio de sons e imagens.
Deve ter pesado para esta conclusão o fato de eu ter assitido ao filme (mais de uma vez!) antes de ler o conto, portanto a leitura ficou um pouco prejudicada por 'spoilers'. Acredito que este problema seria menor se a leitura viesse primeiro, porque quem vê o filme depois de ler o conto ainda terá uma boa dose de surpresas, sem que isso desvirtue o apelo original e universal desta bela história.
Se o livro que lemos não nos desperta como um murro no crânio, para que lê-lo? (Franz Kafka)
APPIO
10/05/2018 - 11:41
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Primavera eterna (de Quatro Estações, Stephen King)
Como pode a monotonia da vida de um prisioneiro proporcionar uma estória dinâmica?
Como coisas absolutamente corriqueiras podem assumir significados profundos?
Como a maldade e o pior caráter podem parecer coisas normais?
Como uma ficção pode ser retratada de maneira tão real, que se duvida que não seja?
Eu não sei como, mas certamente o autor sabe.
Porque tem o domínio da narrativa. E não precisou de enredos intrincados e nem de velocidade na sucessão dos fatos para criar uma leitura empolgante. E também não precisa de ante clímax, de sustos nem acontecimentos inesperados para criar suspense e emoção.
O narrador é também personagem o que torna a ficção realidade. Difícil não crer que as pessoas existiram: pois todas elas têm nome, e sobrenome.
Sem exceção. Talvez uma técnica para dar realismo, assim como são citados os acontecimentos de fora do presídio, onde o tempo corria num outro andamento, muito mais ligeiro. Os acontecimentos fora dos muros - fatos políticos, filmes em cartaz, começo do narcotráfico, e as coisas corriqueiras como as Páginas Amarelas ou as pop stars que se sucedem, dão uma sustentação cronológica aos fatos, dispensando a citação dos anos-calendário.
As crueldades, as baixezas, os vícios e sevícios, a sordidez, o sadismo, tudo o que de pior ocorre num ambiente como o de um presídio não é descrito com exclamações, nem com revolta. Não há adjetivos. Mas, para mim, é o tom monocórdio da narrativa que, não carregando nas cores do sensacionalismo, mas descrevendo fatos terríveis como corriqueiros torna-os ainda mais terríveis sem dizê-lo. O que de pior têm os seres humanos é exposto como cotidiano da vida. Daquela vida. É quando encontramos os valores (imorais) dos criminosos e, sobretudo, a ética dos cárceres.
A autoridade e o poder (da justiça?) ou a injustiça do poder humilha tanto que não provoca mais a revolta, simplesmente anula o revoltado. Pequenos elementos são colocados, insignificantes, mas que prendem pela expectativa. E nada acontece a partir delas. Um pombo que retorna um tecido que poli pedras, pedras entalhadas ou polidas. O detalhe dessas presenças prende a atenção do leitor (pelo menos eu, leitor): que acontecerá com elas? Nada.
O que é marcante é a simplicidade da narrativa. Simples como alguém que conta uma estória. Não uma estória inventada, mas uma estória real. E o interesse em continuar a ouvir o narrador contando é porque ele - às vezes e muito sabiamente - interrompe a narrativa, para retomá-la em outro momento. A narrativa, a maneira de contar é simples. Não tem frases lapidares nem páginas de digressões psico-filosóficas. Estas ficam por conta de quem a ouve (ou lê).
Mas sempre há frases que marcam: “... uma vida inteira na cadeia... transforma qualquer pessoa em posição de autoridade em amo e você no cachorro de todo amo. Talvez você saiba que virou um cachorro, mas como todos os outros também o são, parece que não tem muita importância."
Livro pra se ler mais de uma vez e aprender como se escreve. Ótima escolha.
quatro primeiros
APPIO
10/06/2018 - 15:11
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QUATRO ESTAÇÕES - VERÃO DA CORRUPÇÃO
O “suspense” de Stephen King não está em corredores em penumbra, no ranger de portas, ou a expectativa de acontecer algo inevitável.
Não está na escuridão dos ambientes, mas na escuridão da alma dos personagens.
Sua técnica narrativa nos leva a entrar no ambiente e na época em que ocorrem os fatos, tornando-os familiares a nós, mesmo que não tenhamos vivido aquela época e local.
Afinal, câmeras Kodak e Minolta, Revista Seleções, TV Motorola, Westclock, Boris Karloff, e outros famosos atores ou programas de TV de sucesso, quem não os conheceu? E quem nunca observou o zumbido de uma lâmpada fosforescente?
Detalhes que nos levam a penetrar nos ambientes e na época, não como uma ficção, mas como uma reportagem.
E de qual personagem sabemos peso, altura, cor de cabelos e olhos, formação dentária e detalhes sobre a tez?
E que autor, por humor ou ironia – ou para reforçar a recriação de uma realidade - faz personagem de outro conto participar deste exercendo a mesma atividade? (Hitchcock usa fazer ponta como um figurante).
A captura de pequeno detalhe e a percepção dos acontecimentos mundiais são usadas para construir uma realidade incontestável.
Mas no processo da penetração gradativa na mente (ou na alma) dos personagens principais é onde, pessoalmente, vejo o talento maior. É o descobrir, aos poucos, o lado mais sombrio do ser humano, a maldade elevada ao potencial do prazer.
O duelo de uma mente querendo dominar a outra, mas na luta pelo domínio e a superação na maldade e na torpeza. Um velho e feio criminoso histórico e de um jovem bonito, atraente, inteligente. E sobre o enredo dizer nenhuma palavra acho que é o melhor convite à leitura. Não se arrependerão.
quatro primeiros