Livro62
O príncipe maldito: traição e loucura na família imperial
Data do debate:
quinta-feira, 9 de Setembro de 2021 - 19:00
Número de páginas:
296
Ano da primeira publicação:
2006
Mary Del Priore revela a trágica e fascinante história do herdeiro da família imperial escolhido para suceder o avô Dom Pedro II, último imperador do Brasil.
O Brasil quase teve um terceiro imperador. Se a Proclamação da República não tivesse alterado os rumos da história que se desenhava até então, Dom Pedro III teria sido Pedro de Alcântara Augusto Luis Maria Miguel Rafael Gonzaga de Bragança Saxe e Coburgo, filho primogênito da princesa Leopoldina e de seu marido, Luis Augusto Maria Eudes de Saxe e Coburgo. É que a famosa princesa Isabel, primogênita do imperador e primeira na linha de sucessão ao trono, até então não conseguira engravidar e D. Pedro II temia que ela não desse um herdeiro ao trono do Brasil. Por isso, o monarca mandou vir da Europa o neto mais velho, filho de sua caçula Leopoldina, que àquela altura já dava à luz o quarto filho.
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APPIO
09/09/2021 - 18:32
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O príncipe maldito
O príncipe maldito
De Mary DelPriore
Para o Clube de Leitura do Sírio
Nos primórdios existia a Literatura, a narrativa. Narrativa de fatos reais ou imaginários.
Aí alguém resolveu narrar fatos reais, contar o que realmente havia acontecido, fruto de uma pesquisa e não apenas da imaginação. Parece que um tal de Heródoto, no Século V antes de Cristo, resolveu escrever sobre a invasão da Grécia pela Pérsia – o que de fato tinha ocorrido - e ele deu (ou deram) às suas narrativas o nome de Histórias (de Heródoto). Criava-se, assim, uma nova forma de Literatura, que passaram a chamar de História e esta se separou da literatura e virou uma Ciência, com metodologias próprias.
Separaram-se mais ou menos porque, até hoje, Literatura e História parecem continuar inseparáveis. Afinal, ambas são narrativas. E todo esse intróito para perguntar: o livro do mês do nosso Clube de Leitura é uma obra de Literatura ou uma obra de História?
Quando eu cursava, às vezes eu preferia optar por uma definição bem mais tosca: se a narrativa era sobre um fato realmente ocorrido, o texto era maçante, cheio de citações, muito filosófico, numa linguagem um tanto hermética e com parágrafos enormes, próprios da Academia... era História.
Mas aí comecei a ler excelentes livros, objetivos, ordenados, numa narrativa atraente sobre fatos ocorridos e comprovados, ou seja, História. Mas com o sabor da boa Literatura.
Quando temas históricos passaram a ser objeto de narrativa também de jornalistas, sociólogos e outros - que não acadêmicos da História - a história foi outra. Livros sobre História se popularizaram e até alguns são best-sellers, porque escritos para um público em geral, como por Laurentino Gomes.
Eu acho que nosso Príncipe Maldito não é um Romance Histórico – como assim classificam obras de romancista que narram enredos a partir de fatos históricos - como Maurice Druon, que na década de 60 escreveu a série “Os reis malditos” (coincidência no titulo?) que me deleitaram.
Pela qualificação acadêmica da autora, pela profundidade da pesquisa, fundamentação e contraposição das diversas fontes além da extensa bibliografia, considerar essa narrativa apenas como um romance histórico talvez seria menosprezar e desconsiderar a evidência de se tratar de uma obra de História, com todos os requisitos metodológicos.
Por outro lado, a qualidade literária da autora parece ser indiscutível. Ela ordena os fatos, define os perfis, vai revelando o enredo e, com rica forma narrativa, nos mantém presos ao texto. Pelo menos a mim prendeu. Acompanhei-o como a uma telenovela, apesar do seu final já ser conhecido.
A sensação que a leitura deu não é a de quem conta está “de fora” dos acontecimentos - comuns nos textos de História (até por obrigação de isenção). Não é a de quem está “por dentro” do que ocorre, porém está “dentro” dos próprios acontecimentos.
É curioso como, ao retratar acontecimentos históricos e eventos que definiram os destinos da nação, a autora não dispensa o caráter humano da realidade. Não são o imperador, a imperatriz, princesas e príncipes, marqueses, duques e barões, nem generalíssimos, nem ministros, nem ídolos políticos, nem pais da pátria, nem águia de Haia, mas pessoas. Não é uma dinastia, mas uma família - formada por serem humanos.
Creio que O príncipe maldito retrata de forma bastante “realista” (ops! desculpem-me os republicanos) um período dramático da nossa História, quando a ausência de autênticas lideranças permite a derrocada do regime monárquico. E falsas lideranças e o corporativismo levam a um golpe de estado para implantar um regime tão ausente de lideranças quanto.
Comparando a pessoa do Chefe de Estado daquela época com o atual dá profunda tristeza e desesperança.
O que seria melhor? “O rei morreu. Viva o Rei” ou “O mito se foi. Viva o mito”!
Ah! Adivinhem como votei no plebiscito de 21 de abril de 1993?
quatro primeiros