Caetés
“Os livros do Velho Graça sobrevivem a todas as modificações ocorridas no universo dos seus leitores e continuam sensibilizando e comovendo um número considerável de apreciadores exigentes da boa literatura.” Leandro Konder, Jornal do Brasil
“A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.” Graciliano Ramos
Primeiro romance de Graciliano Ramos, Caetés foi originalmente publicado em 1933. João Valério, o personagem principal e também narrador, é o guarda-livros da casa comercial Teixeira & Irmão na cidade de Palmeira dos Índios. O enredo se desenvolve em dois planos: a paixão de João Valério por Luísa, mulher de Adrião, dono do armazém onde ele trabalha; e a tentativa de Valério escrever um romance histórico sobre os índios caetés. O cotidiano da classe média da pequena cidade nos é apresentado lentamente, em um texto conciso e sintético, marca de Graciliano em toda a sua produção. O autor destaca-se como o principal romancista da segunda fase do Modernismo brasileiro.
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APPIO
23/06/2020 - 14:45
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Comentário: Caetes
Caetés
Graciliano Ramos
Para o Clube de Leitura do Sírio
Quando o Caetés foi escolhido entusiasmei-me. Lembrei-me do São Bernardo e o prazer com sua leitura. Infelizmente, quando comecei a ler o Caetés tinha terminado, no mesmo dia, de ler A Ilustre Casa de Ramires, de Eça de Queiroz.
Infelizmente porque, com a memória ainda fresca, vi o que me pareceram coincidências entre os dois livros. Ambos relatam acontecimentos da vida de um jovem, ainda solteiro. Ambos os protagonistas estão escrevendo um romance. Alguns trechos são reproduzidos (embora, neste aspecto, Eça de Queiroz insere realmente um trecho de um romance épico). Os acontecimentos de ambas as histórias se passam em pequenas cidades do interior. Oliveira (na Região do Porto - Portugal), a 400 km a norte de Lisboa. Palmeira dos Índios, Alagoas – que não é explicitada/denominada – a 500 km a norte de Salvador.
As narrativas são ora objetivas – acontecimentos narrados pelos protagonistas, ora são subjetivas dos pensamentos, opiniões e devaneios de ambos. Ambos romances retratam o contexto social e econômico das suas épocas e regiões. As duas narrativas incluem diversos personagens, e interações e diálogos entre elas, retratam seus valores culturais (religiosos, morais, econômicos...).
Os personagens protagonistas parecem um tanto introspectivos, indecisos diante das situações a que são levados. A narrativa de ambos nos leva aos locais – praças, caminhos, ruas e estradas - e às construções onde tudo ocorre, com detalhamento quase cinematográfico.
Mas como abaixo do equador tudo é mais quente, e os fatos narrados daqui são uns trinta anos mais modernos do que os de lá, a paixão do Valério e Luisa de Graciliano é mais intensa do que a de Ana e Cavaleiro de Eça. Em contrapartida, aqui a religiosidade e a religião são mais presentes, nos seus ritos e crenças. E a moral... um pouco mais relativa.
No Caetés a gente sente mais realismo, sente mais o calor e a secura do ar, sente mais poeira. O regionalismo se mostra intencional, e uma linguagem menos rebuscada e mais objetiva, apesar dos devaneios românticos do Valério. Enfim, Graciliano é mais surpreendente no enredo e na trama do destino.
Quem previu o final?
quatro primeiros